Entrando mais uma vez no mundo dos microrrelatos de Ana María Shua. Três fragmentos de Casa de Gueixas.

 

Aquela que não está

Nenhuma tem tanto sucesso como Aquela que não está. Embora ainda jovem, muitos anos de prática consciente a fizeram se aperfeiçoar na sutil arte da ausência. Aqueles que perguntam por ela acabam se conformando com uma outra qualquer, a qual tomam distraídos, tratando de imaginar que têm em seus braços a melhor, a única, Aquela que não está.

 

Máquina do tempo

Através deste instrumento rudimentar, descoberto quase por acaso, é possível vislumbrar certas cenas do futuro, como quem espia por uma fechadura. A simplicidade do equipamento e certos indícios históricos nos permitem supor que não fomos os primeiros a fazer essa descoberta. Então, poderia ter conhecido Cervantes, antes de escrever seu Quixote, a obra completa de nosso contemporâneo Pierre Menard.

 

Carícia perfeita

Não há carícia mais perfeita que o leve roçar de uma mão de oito dedos, afirmam aqueles que, en vez de escolher uma mulher, optam por entrar sozinhos e nus no Quarto das Aranhas.

 

Traduções: Débora Zacharias
Fonte: Shua, A. M. (1992). Casa de geishas. SUDAMERICANA.

 

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